SOBRE FÓSSEIS DE CIBORGUE


— Reivindicar para nós e os contemporâneos a condição de vítimas exclusivas do Apocalipse é ignorância de todo caminho humano como degredo ao Fim do Mundo, par conjugado à morte particular. Os Maias sabiam-no; aos ciganos, eslavos e judeus foi imposto esse saber; aos negros escravizados. É portanto que devemos construir ao invés de destruir, e não por postergar a Revelação. Fazemo-lo para garantirmos que os seus soldados tenham muito trabalho. Quem se dedicou a engenhar harmonias admite: são estados complexos de dinamismo capazes de acabar sem catarse. Aos soldados do próximo Apocalipse deixemos pouco trabalho. Passou o tempo em que precisávamos de bons poetas para fazer ruir o mundo; o mundo está roído. Que venham então até poetas tortos desde que o sejam honestos, honestos em sua tortura e não a tornem reflexo de uma reação desgastada, desgostosa. Aceitemos as rezas de velhos autores, tornemo-las mentiras exatas. Aceitemos as flores passadas apenas se as colhermos com a exatidão própria duma traição sincera. A verdade atual há de ser dura e gostosa como as transas que sonhamos com artistas hoje velhas. A poesia atual só haverá se soubermos reconhecer que toda diva velha é imagem de uma deusa eterna. Procedimentos estéticos, perseguimentos ascéticos: o Fim do Mundo não é o fim dos mundos. Em uma harmonia, a fins de conservação de energia, tudo está guardado, inclusive o saber que a encerra.
. . .

2 comentários:

  1. Esse é prato cheio pros professores de cursinho! (Não entenda como ofensa, muito menos como elogio ou crítica... deixo esses pra depois, entenda só o que tem pra entender kkkk). abraços

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. se não a gente acaba virando um deles...

      Excluir