Eis que reflui ao metalinguismo poético.
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Eis que reflui ao metalinguismo poético.
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texto entre o
testamento o
testemunho o
testículo
Um teste
E se ao Deus dizer
faça-se a luz
nada — quem?
não se fizesse
Isso se entende?
Não sei quando me faço entender
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A partir do poema "Nossa poesia não será burguesa ou não será". Publicado aqui com a liberdade que tomei de reescrever uns versos, adicionar maiúsculas e pontos — isto é, de controlar seu texto, porque pelo visto tenho visto que escrita é controle.
O primeiro amor homossexual
do meu primeiro grande leitor
disse da minha poesia
É burguesa
Meu primeiro leitor
disse do meu primeiro amor homossexual
Não é amor
Disse-lhe o mesmo
e talvez os dois estivéssemos certos
Os nossos primeiros amores
por sua vez
dizem sempre É burguesa
sobre a nossa poesia
Mas não
meu primeiro leitor e eu
que o sejamos burgueses
A nossa poesia eu não diria
É apaixonada
e nossos primeiros amores
homossexuais que são
deveriam notá-lo
Meu amor homossexual não quer mais nada com isso
Meu grande leitor cansou de notas biográficas
Seu primeiro amor segue dizendo burguesa
o que quer que seja
e eu amo a todos e lhes quero bem
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1) Nunca há gente demais em uma foda bem fodida.
2) Nunca há tempo o bastante para uma despedida.
3) Ou "tudo o que vai morrer como se fora para dar-se", etc (no lugar de encerrar um texto, como este), e por aí vai.
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O amor pelo próprio pai
quando me diz seu avô era um homem íntegro
O amor por uma mulher como minha mãe
30 anos por enquanto e lá vai pedrada
Ou o escravismo na proposta de Zumbi dos Palmares
Porque meu pai não é um herói
e recusa a maior parte dos heróis nacionais
Mas meu pai fuma charuto
o que lhe dá um quê de heroico
mais seu tom messiânico, como
o pensamento francês busca apenas adiar a sua morte e
é a morte da Escola dos Annales
Ele viaja a pesquisar tráfico de escravos
Em uma dessas viagens
minha irmã disse à minha mãe
era muito pequena ainda
que saudade do corpo do papai
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11.10.23
Junior
te quedas in peace
baby por mucho tiempo
poesia brasileña will still
have its eyes bien cerrados
a todo lo que really maters
Tranquilo
viva a la margen
at a riverbank hurra
write or escribe
o mismo escreve
nobody will read you
é o que importa
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20.9.2023
1) O poema é o que se perde na tradução.
2) O mito é o que fica com a tradução.
3) A viagem é o que não se tinha na primeira versão e vem à luz após a tradução.
4) A viagem, por ser o que se ganha na tradução, só pode ser o contrário do poema.
5) A viagem é a traição do princípio conservador que norteia a tradução.
6) A própria palavra traição parece trair a palavra tradução. Entre as duas o que se passa é uma viagem.
7) Tudo aquilo que se esperava da viagem ainda não é viagem. A viagem é o que não se esperava.
8) A viagem é um fantasma que se projeta ao fim de si mesma. Por isso Clarice Lispector escreve em seu diário "Não sinto mudança de natureza, não sinto viagem!". Não havia ainda chegado ao cabo sua viagem à Libéria. Apenas pode haver viagem com o fim da viagem (e da tradução).
9) A viagem será sempre melancólica. Sua imagem só pode formar-se na partida.
10) A partida da viagem tem esse nome por através dela levarmos conosco uma parte do lugar de onde partimos. Viajar é poder carregar uma parte na partida.
11) Um coração partido teve sua parte roubada. Levamos conosco a parte dos corações que partimos. Como calvários.
12) Ao viajar ama-se outra parte, mas a consumação de sua traição será sempre impossível; amar a viagem é trair o existente em nome do existido: amor que se atualiza, mas só em torno e conforme dado um fim.
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14.9.2023
O "Século de Clarice"
A década negra
O milênio do poké
Também o dia que não coube no poema
O dia que o poema não conheceu
O dia deitado para fora da página
O dia feito em pé contra o verso do poema
Mas mais falido do que fálico
Sem a falácia de um poema
O dia: não
Um dia: meu
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Proposta:
Chamar blogueiro apenas a quem tiver a plataforma blog. A quem se chama atualmente de "blogueira" chamar de "historiadora" (devido ao uso da plataforma storie).
É uma questão tão necessária quanto precisa.
Viabilidade:
Proposta linguística verdadeiramente incorporada à expressividade e ideologia da comunidade falante de portuguesileiro, como o tupi de Policarpo Quaresma e o pronome neutro.
Diríamos que é um sucesso.
Signatários:
Miguel de Bivar Marquese (mediador de leitura, estudante, leitor de poesia, autor de poesia, blogueiro);
Antonio Yudi Pontual de Petrolina Ikeda, o Totô (japonês alto, quase um historiador, pintor de mão cheia, gravurista por ambição, marionetista por ora, sem dúvidas um baita blogueiro);
"Basta".
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11.9.2023
Houve um tempo — e talvez seja essa a expressão fundamental do trauma, "houve um tempo", como eu diria que somos melancólicos, porque, crianças, escutávamos "era uma vez" — em que uma diferença me aparecia. Viajar era isso: poder conhecer algo que me negasse.
Mas eis que agora viajo e no entanto me carrego. Não o princípio da diferença — eu e outro —, o eu só pode ser o princípio de toda indeferenciação. Eu fala para um outro, mas é eu quem fala e te escuta, pequeno outro. Eu reúno e neutralizo o mundo em meu próprio tecido. Eu escreve um texto, mas eu não me quer. Preciso não lhe querer: eu, que não consigo deixar de ser brasileiro, que não falo nada desse dialeto da língua humana que é o holandês.
E eis que ao responder desta forma recrio meu próprio problema. O eu é o princípio da indiferença porque o eu é humano. O humano é o princípio da indiferença. Sem perder o humano nunca nos livraremos de nós.
Desejo apenas que durante dez dias eu seja holandês e desseja brasileiro do jeito mais terrivelmente desumano, ainda que envolva ****** ** ****** *** ******* **** *****. De forma a não esquecer jamais que ** ***** ***** ** ******* ***** *** **, ***** *** ****** ****** *** ****** ** ******. * ***** ** *** ******* **** *****, ***** *** **** ****** **, ****** *** ******* **** *****.
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29.10.23
I'm sorry, but
I'd rather just follow my lead
as an american poet.
We english spearks don't have this taboo
about prosódia or pés
or anything like that.
We speak softly or even toughly
but uniformely.
There're no oscilations.
Yet in America there're some.
We're not the same.
Our language is not the same.
Don't you hate America
or you can hate it.
Do it either ways knowing what you're hating.
America is not only a white country.
The first american indeed was Americo.
When he first came there
there was plenty indigenous people that still are
here. Living or dead but they do.
Do you feel freed from guilt?
Hate what you want,
I'm not interested.
I'd rather discover myself as a poet
uneasy about prosódia or pés or
genocídio dos jovens negros favelados
or milícia or breja
that I don't drink.
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17.10.23
Após a hora da voz
eis a era da vez
da caligrafia do poeta.
Adeus atores ateus
(sua leitura visceral e chata).
Lutero matou o papa.
Lutero noves fora
exortou os populares dez vezes
basta.
No século 16
ler a Bíblia com os próprios olhos
não escutá-la.
Com as próprias mãos
inscrever o poema nesta página.
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9. 10. 2023
Minha mãe é um sopro que tomou minha vida.
Minha mãe me soprou para fora de sua barriga.
Às vezes, minha mãe é como uma brisa.
Minha mãe me oxigena tão logo o romper do dia.
Minha mãe é vento alerta de maresia.
Saudades da minha mãe eu sei que sem conhecê-la a terra tinha
(Da terra minha mãe é o ar que se respira).
Raramente me lembro de ser minha mãe por sua vez uma filha.
Seja o que ela for para mim me basta que é a minha
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8/10/2023
meu boy meu boi meu touro
meu bezerrinho
meu cordeiro de Deus
que me dais os pecados do mundo
me mama
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22/09/2023
Meu tom de pele
calça cáqui
Meu corpo um fruto
do caqui rançoso na boca
que ninguém quer comer
Minha magreza de ruim
Meu rosto bonito contudo
Meu coração peludo
Minha pele de rã sem pelos
A frieza do meu coração
Meus ideais
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Inspirado, editado e roubado por mim, outra vez — quase sempre — do Totô.
Gosto dos que me fazem vibrar — e digo: gosto de conhecer para aprender a vibrar melhor. Gosto da palavra estendida ao comprido de sua graça, porque é graciosa e engraçada. E se me ensinam o alfabeto grego, o cirílico e mil kanjis é sim, sim, senhor, porque me masturbar em 26 letras é pouco e escasso: quero cruzar todas palavras de todos os cantos. É para chorar um amor em versos líricos e mais tarde em ironia cáustica; para saber o sólido geométrico que melhor se encaixa na minha tristeza; para conhecer as etimologias e rir de Pedros, coitados, que são pedra.
Quem ainda quer ler o mundo? Como se houvesse coisa pra ler. Um entre outros mil, tinha-se lido que, há pouco mais de dez anos, o mundo acabaria. Coisa ainda pior na aparente ausência de mitologias: não percebem, recalcada mesmo na certeza objetiva dos fatos, a suposição de uma redenção mal assumida. Empanturram-se de números, esquadrinham-se em gráficos e eixos e, mesmo assim, não enxergam que o percurso de seus pensamento traça uma imensa cruz. Sonham: sair da caverna com um gesto heróico; ver dobrar o espaço, já rendido em apokálypsis; assistir ao revelar da farsa; a caverna desmanchar-se em planos não cartesianos; o tempo desembaraçar-se. E no entretanto não há redenção: o demiurgo não cogitou o fogo e não houve plano por se manifestar na saída da caverna. Andou-se em circulos. Sinos não foram tocados. Não desceram quatro cavaleiros, nem surgiu, dos céus, a tal da puta da Babilônia. Para que então, reter-se, mortificar-se à espera dê? Por que cultivar a redenção oculta no estudo dos algoritmos e funções numéricas? Alguém avise: a máquina do mundo não vai se abrir, o gabinete não será invadido por cachorros falantes e não haverá pacto que resolva. Já se leu tudo. Já se escreveu — a sério — uma Bíblia, e nem assim a redenção chegou. Querem continuar a resmungar objetividade, como quem resmunga a certeza da volta de Cristo? Desenrolem ao infinito o perímetro da circunferência, e andem em círculos científica, precisa, calculada, rigorosamente.
Se não há explosões, não há dragões, pelo menos que nos divirtamos com entrar e sair da caverna. Deixem que se projete todo um teatro nas sombras. Animem-se como as crianças com animais feitos contra a luz pelo contorcionismo das mãos. Usem, pelo amor de Deus, o saber oculto do mundo de lá para projetar deliciosas fodas, e que se foda que sejam sombras. Fiquem aí os disciplinados leitores, os ascéticos cientistas, calculando o valor de zero sobre o nada, à espera do seu Cristo Numérico. Perderão o show das luzes e das sombras.
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aos meus netos direi que aos 20
fazia palíndromos andava em círculos
via vídeos no youtube
aos meus filhos direi que desenhava
lia e chorava
com músicas de amor
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Eu detesto design não é por arrepiar a um estrangeirismo. Ontem, eu aprendi: que o inglês é uma língua franca.
Não é uma questão linguística ou gramatical. Não falo hoje das palavras. Falo das coisas.
É que elas terminam por se encaminhar ao lugar próprio delas. O design, na sua qualidade desenhada de designação, se preocupa com o lugar que jamais será o finalmente ocupado pelas coisas.
E nunca desenhar as coisas, mas desentranhá-las. No mundo, há um vão. Portanto, elas vão.
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Foi nos arrecifes
Foi aos arrebates
Pelos arredores foi
que as ondas quebravam
e no centro delas
era onde eu me encontrava
quando você chegou
na hora mais exata
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Louco, a corrigir traduções
eu velo você,
cuja imagem me põe,
etimológico, louco,
um sopro um vento de Deus revolvendo Todas-as-Águas.
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22/08/2023
O primeiro amor homossexual
do meu primeiro grande leitor
disse que minha poesia é burguesa
— era burguesa:
agora lixo nuclear
será, embora como resíduo
financiado pela burguesia
produtora da droga e da miséria,
elas sobretudo burguesas
segundo o método materialista dialético de análise
mais que o encanto.
Não. Manifesto
a favor do dia em que a graça não se leia
como burguesa,
e se o primeiro amor homossexual permitir
escreveremos encantados e
graciosos mas não burgueses:
encantosos
engraçados
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