DO LEME A RECIFE


dia estive no Leme

por visitar ela Clarice

ela a que quis me fazer fitar

parando em frente a ela

ela que sempre esquivava com olhos

perdidos de contra mona lisa bem dura

Clarice olhos duros da Mona Dura Clarice

olhos de bronze

olhos de louca que não fita

porque está em outro lugar


no Leme Clarice passou ao largo de mim

fui ao Recife buscá-la

no Recife em pleno largo tomava o sol

e só olhava larga para o Sol

tinha o acesso ao ouvido pelas orelhas tapado

com certeza de tão certa ela olhava

de tão pouco me respondia

de tanta frieza na pedra ou metal

em que mesmo estátua Clarice

sabia a verdade do mundo anti-estático

concentrada demais

para pulverizar mais

no estado sólido da matéria

dinâmico e dinâmica da matéria

que o calor conduzia e absorvia

e que me queimava me obrigava a lembrar

sensível a vida teimosa da minha célula


e a gente cremou Clarice?

alguém responde

para eu poder respirar muito e rápido

para eu aumentar as chances de

um dia

uma cinza dela

os meus alvéolos


dela Clarice

que conseguiu ser desfeita

e voltar Dura pós queda

pesada mas não a ponto de que não conseguisse

fugir de mim para ensinar

que enquanto eu quiser

Clarice cá estará lá

Clarice quando eu no Leme

visita Recife e estará no Leme

quando dia estiver em Recife

Clarice


da gente que interessa quando é mais gente

e menos a gente

serei menos eu da próxima vez

para ver se haverá

o que possa interessá-la

e interessar lá

. . .

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