1.
Pensem na dança dos faróis, peço que pensem na dança sutíl dos sinais de trânsito. Porque nesse instante os faróis do mundo todo, os que não estão quebrados, os faróis funcionais do mundo todo, se não vermelhos ou amarelos, são verdes, oscilando, uns e outros, para os seus contrários; e, porque, num próximo instante, os sinais funcionais do mundo todo se alternarão, caso já não tiverem-se alternado, para uma das três cores. Pensem que, pelo eclipse visto, o padrão iluminado, uma música silente, os faróis funcionais do mundo todo estão a nos codificar: só a cultura contra a natureza dançaria assim aleijada de concerto.
2.
Agora vou-lhes mostrar algo que vocês conhecem do jeito que conhecem: pombo. Ave é meio dinossauro, meio réptil. Cobra vocês já conhecem. Toma cuidado com cobra. Com pombo não toma cuidado: o pombo que toma cuidado com a gente. Perdeu as presas de cobra e ficou com um bico; as patas excelentes nadadoras do jacaré viraram patinhas de pombo duas e duas as asas; com jacaré toma cuidado. O pombo mutante foge assustado, senão pombo atropelado. Ai que tristeza, um caiu no lago, ai, pombinho devorado — dizem que pombo é meio rato.
3.
Daí os advirto. Um dia escrevi: uma harmonia guarda até o saber que a encerra. Guarda a busca pelo saber, seria de mim mais sensível ter escrito. Um harmônico sabe mais que ninguém que, se vai acabar, precisa acabar sem nem se ver. Como dividindo-se infinitamente por dois, dois, a capacidade dum reservatório que nunca chega a zero; que vai, na verdade, multiplicando-se vista em cada unidade cada vez menor; como isso, mas sem unidade — por enredamento contínuo, tão indiscreto quanto sentido sem alarde: uma frequência; acho que alguém harmônico se encerra como uma frequência...
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