GESTUÁRIO


1.

Subiram com balões.

Surgiram com drones de alcance

mais alto, ao maior mar,

menos com a não mais precisa

mas necessária

máquina de aprofundar ao como se dá

o descanso dos siris:


se, na morada em que se escondem,

trocam afetos,

se é fria (aproximam), se é escura

— se sentiríamos ali a mesma

melancolia devida ao mar

que sentimos por cima da areia,

obrigados a escutá-lo

sem afinação.


Nunca um siri retorna pelo mesmo buraco em que entrou fugindo de nós

ela diz,

e nem vemos se por outro qualquer.


Acha que a areia é a quitina

triturada pelos pés;

e não sossega na canga

diante de uma demolição

como essa.


Não adiantam retroescavadeiras.

Arrancado todo o conteúdo da orla

os pegaríamos de surpresa,

desmantelaríamos a forma,

para ficar com uns dois

três inválidos sem escapar:

sem reter seu segredo.


Então com a voz marejada

ressurgem, eu sinto, já por debaixo d'água

e eu lamento

pelo egoísmo

pela teimosia pela inconsciência

e detesto o som permanente.


2.

*
Aqui, a matéria é quente e não a suportam aspirações germânicas, em dimensões miúdas, do castelo feito por quem o sorveteiro ignora, porque, oferecendo o frio, o sorveteiro busca e explora as expectativas de dois, juntos, nutridas ao um pelo outro. Sem isso, sente motor de mover a caixa para outro oriente. A solidão de um só torna o modelar na praia oco; as paredes, ocas; as cócegas sentidas na mão, provocadoras dum riso tímido e, sem mais outro, não, que é, para o sorveteiro, uma resoluta deserção.
*
"O primado da contemplação sobre a atividade baseia-se na convicção de que nenhum trabalho de mãos humanas igualar-se em beleza e verdade o cosmos físico, que revolve em torno de si mesmo, em imutável eternidade, sem qualquer interferência ou assistência externa, seja humana ou divina."
*
"Há um óleo suave que eles passam nas costas, e esquecem."


3.

Sentir uma bolacha do mar com a ponta do pé,

perdê-la. Sentir outra no mar com a ponta do pé,

capturá-la. Examiná-la.

O seu peso na mão perguntar, pela gente,

pelo que fazer

(...)

o arremesso é exagerado;

a mira,

distante; e a despedida,

assim como toda despedida,

insuficiente.

. .

ilustração pelo Antonio Yudi

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