#1
Todo ato que realizo é pensado e projetado para ser lembrado pelo esquecimento de mim. É a sucessão deixada pro aprendiz nenhum dos meus feitos vazios. Mas toda escolha nossa consegue ignorar qualquer ideia de passado e futuro e, à sua vez, propõe-se ser migalha e fermento da Vida sem que se entenda a glória do poder ser esquecido. Por consciência disso, amo aos vermes todos, sei que vencerão sobre mim: realizo todo ato com ponderação e inocência, pretendendo a segurança de lhes ser assim digno de apagamento.
#2
A escrita dessa carta é já um ato cruelmente fatual buscando atolado o que me é redundante, o que é redundante a quem lê e redundante ao homem mesmo, a crença na ideia de que crer agrega valor, de que basta escolher para viver a vida, sem ser necessário antes sabê-la.
Cheiro suspeito vindo da cozinha: entre árabe e indiano, forte tempero e muitos condimentos. Um pouco assim, o texto um tanto hermético. O sentido no ar: de nós nessa morte e vida, vida e morte que é o tempo. Mas faltam premissas... essas palavras são muito suas e vem derrepente, ficam um tanto turvas pra esses olhos miopes As orações funcionam, mas atomicamente, termo a termo, sinto que escapam algumas coisas. Ou melhor, se escondem. Se quiser, me esclareça. Se não, me esqueça. Sempre é Carê, nem árabe, nem indiano... J-A-P-O-N-E-S.
ResponderExcluirEntre cheiros e cheirinhos, Flamengo ganhou tudo em 2019.
Sem dúvida os cheiros distintos demais atrapalham. É um trecho anti-cosmopolita, digamos uma pretensão de atingir um grau de verdade roceiro, dum universo agricultor no que diz respeito à facticidade da terra; no que é da experiência, dum respeito rural ao luto e ao culto dos Ancestrais, sem dar muita importância a quais estamos celebrando particularmente.
ExcluirPreste atenção: tem algo inevitável que deve ser enxertado na descrença de Bernardo Soares, a escolha. Escolher é que é muito inevitável, não há outro meio e já pensar é um ato nos contou Rodrigo S M. Infelizmente, senhor Pessoa não teve a sorte de ler a Lispector. Sempre agimos e, assim, sempre escolhemos agir de tal modo e não de outro, por mais irrefletida e despercebida que pode ser a ideia. Por isso, não possui validade alguma acreditar como a morte igualasse a todos e nada importa nada, que esse princípio nega muito a vida, portanto muito o Tempo e, portanto, a tudo, que não se existe sequer sem um tempo para tanto. Ainda, descompromissado com as categorias biológicas, posso dizer: as traças são uns vermes. Mas ter a nome na capa de um livro é o mesmo que não o ter.
Não interpretei o fato publicado por mim, Totô, porque seria demais desonesto de minha parte. Trouxe, escrevo assim, uma outra perspectiva.