GLORIFICAÇÃO (2021)


T. S. Eliot

nasceste em Missouri

morreste à Inglaterra

Tua carne nasceu fresca

e boa e morre velha

et cetera e etc


Goza. Viva o Shopping West

Plasma o arrasar desta era

Glosa. Pronuncies prenúncios

com teu sotaque americano

diz burning burning

burning incrédulo

crente bem como vos descrevestes

nos compêndios da academia

Certos de que o mundo convosco começa

e convosco se encerra         

                                     Não

as últimas cigarras do cerrado

terminarão de queimar depois

de cantar muito depois

que estiverdes sob a terra

. . .

UMA IMAGONIA


ela, por si só, ela

suscita, que ela

complica, quando escrevo e

sentado sobre essa sensação

de escrevê-la

(um instante fura a ima

(mais que estar fora-dentro

ficar dentro-dentro,

dois corpos no mesmo espaço

traindo o espiritual e o físico

                             o imã

ele, por si só, ele

aproxima, que ele

destina, quando sinto e

criado nessa inscrição

de sentí-lo

) imagina só: imagina)

penetrar não era força de expressão

— era magnético; a página

— magnética; o mundo

representaria magnetizado

mais que um instante de impressão

e isso, enquanto se anunciava,

                               gonia


. . .

DECISÃO SOBRE OS ANOLIS


Chovia na Martinica

— chovia no poema

e isso não era expressão de qualquer estado do poeta.

Chovia; e tanto.

Era impossível da crítica negar a chuva.

Mas charcos tomaram a Martinica,

e isso desdenhou sobretudo o poeta.


            O curioso do poema 

            foi que a camaleoa, a contemplar o dilúvio

            intuindo seu iminente fim caribenho,

            não guardava qualquer relação

            com a crítica, com o lagarto

            ou com a leoa

            (e nem por isso deixa de ser bonito imaginar uma

            assim, deitada).

. . .