ENGENHO


O menino, devaneando com direção, pede

quase mas não um filme de superfície, isso é imagorragia.

Isso é, descarta a experiência formal

na qualidade de formação de impressões

e torna ao nada e torna embalagem

colunas de condições e anúncios virais

que alguém vê só porque busque encontrar

a casada carente e só, como ele,

ou um potencial epitáfio, para anotá-lo.


Epitáfios são apegos de puro desespero,

a gente morre e não pode mais tê-los

e a experiência ficou com os pombos,

com os plásticos, com as putas, os astros.

Sepultar é esperança dum juízo final

que vem antes ou depois de

consolidarmos o fim do mundo?


Não, o diretor... o diretor pede, na forma

a invenção dos segredos de um meio atingido (mesmo em sendo da sociedade inimigo); como em todo conflito está também sua resolução; como, no sonho de algum moinho, um dia há de encerrar a moenda, no verdadeiro sentido da imagem que busque as formas de contar

e assim deixando de fazer cinema,

senão como experimento,

e enfim sai de cena.


. . .

ilustração pelo Antonio Yudi

banquete absurdo


Tudo que a ambição

desleixa e a pretensão

agarra — amarra

três tomates num saco

e bata: até virar batata.


Transfigure a fruta,

transgênico mata

(Melhor ter três

Tubérculos que ouvir

Vanessa da Mata).

Felipinho me beija?

Felipinho me bata!

Uma forma inteira

boa bem sonhada


é carne rolê comida

lá na minha casa.

Ó Matinha escura,

ritrovai-me: é chata;

poesia dura 

com a aguinha acaba.

Eu não entendi nada —

eu não entendi nada!

do que a ambição desleixa

e a pretensão agarra.

. . .

#6 
Não basta dizer e=mc para converter matéria em energia, é necessário fornecer-lha. A conversa é, antes de tudo, um meio. E a relação é mais que um imenso roteiro: é uma forma de viver. É necessário fornecermo-nos vida.

retratotelepatético


de poliedros creio que ainda restarão
                                                          ângulos 
e serão ainda operários
                                     contem
se ainda são espectadores privilegiados

da imanência real contida no fato do juízo final


e os jovens
                 caminharão ainda dormentes
às aulas de intemperismo? 
                                          contem tudo
porque só há pretextos de agradecer


têm gratidão por tornarmo-no           
literal
sistemático                 
o que quis
por banalizarmo-no
por ser banalizado                 
sobretudo
pelo estragarmos o som truncado de seus versos

decorrentes da frustração de ser mau cantor

e ele ouvira tanto a Bossa Nova

por mostrarmos a bancas de dementadores
determinando o que fica                                         
o que vale                        
o que ensinam
que inspirados também são profanos 

se assim operários desencantados

quiserem ou forem obrigados


que o vestígio da soberania dos grandes leitores

é decorrente de sua megalomania provocada

no janeiro de agora nessa paisagem com esses ministros

e os verbetes de sinônimos revelados nos históricos

foram consciência do pós-modernismo e integração

por termos aos doutrinados que                         
naquele poema
foi porque namorava uma atriz italiana         
linda


e ela era tão linda
                              digam-lhes
que foi veado e mulherengo

que viveu a vida

admitindo verdades e buscando mentiras

tornem-no um impressionista
                                                 sim
provocador de impressionismos


mas não esqueçam
                                por favor
não esqueçam

da contradição fundamental

entre sonho de apagamento
                                           vigília de segredos guardados
modo de se considerar importante

. . .