6/07/2023
Todo mundo me chama de alguma coisa.
Na minha família é Lia.
Uma menina me chamava de Bahia.
O Miguel é meu padrinho,
porque ele me chamou de Iaiá.
. . .
6/07/2023
Todo mundo me chama de alguma coisa.
Na minha família é Lia.
Uma menina me chamava de Bahia.
O Miguel é meu padrinho,
porque ele me chamou de Iaiá.
. . .
30/06/2023
Soar ou suar é questão de abertura
dos tratos vocais
mas de poros mais que de vogais
de fluidos
Ambos devém o interior em exterior
Comungam
comunicam
Suar e soar é questão de ritmo
e o ritmo é uma questão de corpo
e não cai na roda
quem tem perna bamba
e quem não tem balangandãs
não vai ao Bonfim
. . .
Eu tenho os olhos doidos-doidos
e doídos de doidos por ti.
. . .
24/06/2023
A Igreja de Santa Luzia tem saudades de ver o mar.
Façam um milagre:
tornem-lhe plena do ar do sal.
Ela já está cheia de arder ao sol.
Pensem na capela carioca.
Lembrem que a imagem dela tem sede
de refletir-se na praia que havia lá.
Intercedam pela Santa.
Cuidem dos seus olhos.
Vejam.
Não é tarde.
Não se enganem.
. . .
por Clara Prado
para o proprietário destes meios de expressão
Ninguém me para!
— Ele disse e depois parou.
O menino de ouro cansou
De gostar das mesmas entradas.
Ah, não me levem a mal!
Sapeca pepeca pecar,
Mesmo sujinho consigo brincar
(Brilhar?).
. . .
Há muitos poetas; há
poucos leitores; porque
há, antes, tantos assaltados
e tão poucos assaltantes.
. . .
Ao editor
Tenho poemas.
Sim, tenho.
Tenho também profemas.
Eu tenho.
O sr. quer comprar
bananas?
. . .
Não sei se o romance morreu.
Não quero saber.
Tenho raiva de quem sabe.
Nunca cogitamos velório.
Eu? Não. Viu? Obrigado.
Licença? Claro.
Por favor. Pode passar.
. . .
Alberto veio me procurar algum tempo depois de eu pedir papel e caneta. Eu queria conversar mas não era possível, pois só joga papo fora quem o tem de sobra. Aqui estão as enfermeiras todas muito ocupadas. Elaine era o nome da que primeiro falou comigo e já não sei quem ela é. Gostaria de ter-lhe dito que tenho uma prima chamada Elaine. E que a sedação foi tão boa que sedado o que sinto é muito bom. Ou, talvez: se na verdade é mais uma impressão, e na verdade o bom vem de depois do apagão estar vivo. Mas uma suave vida apagada na seda... de forma que tantos americanos se viciam em morfina. São efeitos parecidos?, não há a quem possa fazer a pergunta. Peço para conversar com as enfermeiras e pelo meu estado devem pensar que minha vontade de conversar é vã como o sedativo — e? Por isso não importa? Como têm mais o que fazer, pelo menos uma mais gentil atendeu ao meu pedido de papel e caneta. Vejo que a escrita é um arremedo da solidão quando espreita o medo. Mas endereçando-a. A mim? Não sei. Medo de quê? Não sei. Sei que ela potencialmente me revela o que agora só com o torpor nas mãos poderia registrar. E se a escrita revela-me, então a quem? Não sei. Ao menos logo chamarão minha mãe. O tempo suficiente para, de pouco em pouco, me desinteressar do por um instante divino suco de maçã; para deixar de — deixei. Mas o doutor (terá doutorado?) parece que sabe como é, segundo umas das enfermeiras; já o chamaram há tempo e não vem. Seu nome: alguma coisa com L, talvez Loreto. Só faço pensar naquela atriz bonita que não é a Camila Pitanga.
. . .
Nem
uma pedra no caminho
Ausência delas
Nenhum cenário
mais remotamente concebido
como iminência possível
de tropeços empecilhos base para barricadas
Ou atirar pedras porra
Não tem pedra no caminho
Caminho sem pedras
sem caminho
aqui não há nada
. . .
Poema com o qual acho que não concordo
mas que talvez agrade o coração do poeta Régis Bonvicino.
Poema retirado do meu comentário digital
Burro! Estronda como um esturro
O alarido estúpido do seu urro...
. . .
POEMAS TERRIVELMENTE LINGUÍSTICOS
O João perguntou quando a Maria vem;
o João perguntou: a Maria vem quando?
. . .
fortes rimas toantes fracas
mortes corpos mortos
jogados em meio à praia
ritmos breves longos idem
mais curtos versóbrios
por assassínios se imprimem
de cinco a sete facadas
alternadas logo
em redondilhas sublimes
. . .
13.4.23
pelo prazer da língua
pelo saber da língua
pelo sabor que a língua me dá
Ou a outros homens
que beijem e falem como você
sem que eu sequer
tenha que provar para dizer
. . .
Está feito. Os troços coisados
em negócios. Muito despojo.
Tudo destroços. Necrotreco
de sentido, e no som
ainda rima interna
com ossos.
. . .