No banheiro de um café colombiano tocado por um casal gay na zona rural do município de Guararema, no interior do estado de São Paulo, vejo um quadro em cima do vaso. Trata-se de uma impressão barata, em lona, de letreiros esteriotipicamente estilizados: “Café”, “Hotel”, “Diner”; até “Moulin Rouge”. Começo a pensar que estou ficando louco. Percebo que é quase sempre assim: símbolos me dão pânico. A sensação de ter que sustentar a sua convencionalização — uma vez que, relativizados, passo a estranhá-los e ganhar consciência de sua arbitrariedade — leva à minha própria percepção enquanto alguém também profundamente arbitrário, que sustenta símbolos e convenções só para si. Um esquizofrênico, ainda mais diante de símbolos do capitalismo.
Mas a minha loucura nada mais é que a minha forma de pensar individualmente o que se chama, coletivamente, de “crise existencial” – algo que acometeria a “todos os homens” no ato de tomar consciência de sua dimensão “humana”. Ora, se penso no sol explodindo não penso que estamos danados, penso que não saberei mais sustentar o peso da reprodução social da vida se tenho consciência desse fato. E logo ficarei doido.
No entanto não quero produzir um texto de lamúria, quero produzir uma intervenção. Se, de uma forma ou de outra meu destino é a esquizofrenia, permitam-me ser propositivo e apresentar-me-lhes uma solução. Meu medo metafórico da loucura é também literalmente louco porque é um problema do qual sua lógica não permite saída: sendo uma problemática propriamente particular da minha ficção individual, não posso sair dela por qualquer concepção também individual. Nem, tampouco, do “coletivo” pensado por sua vez ele mesmo como um organismo colossal mas ainda unitário, todavia me é possível fugir desse esquema pela relação, pela participação, pelo compartilhamento.
Assim agradeço a todos aqueles que são a condição necessária para que eu possa viver sem enlouquecer e encerro por aqui o meu lamento.
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