IMPRUDÊNCIAS

 

Imprudentemente

pedi para a atendente descartar meu bilhete único antigo

com quem eu tinha tantas memórias boas

Imprudentemente eu voltei a escrever poemas

sem ter voltado a ler poesia

não tenho mais uma técnica do verso agora


(Não sei se sequer tenho uma técnica de vida

que fosse capaz de me inserir entre os naif

como um artista.)


Embora tenha meu bilhete único novo

com quem eu tanto me empolguei que

imprudentemente

me livrei de um grande amigo

Meu companheiro lindo

aquele cartão não me saía do bolso

e agora está num saco de lixo

jogado entre outros

. . .

ALGUMAS OBSERVAÇÕES

 

Ninguém fala em prosa:

uma fala é um fragmento

que lembra mais um verso,

um epigrama, que um parágrafo

Eu tenho estado sozinho

tenho pensado mais do que falado

e isso me tem jogado para a prosa

(a prosa é um discurso solitário)


Esse poema mesmo não surgiu para alguém

Surgiu no oco da minha cabeça louca

Por isso me desculpem essa sonoridade assim meio torta

rimas óbvias para orelhas moucas

. . .