MANUAL


O livre define-se em relação a-

O livro também mas isso se oculta

e entre os dois

pesa mais que dois milênios

de tradição e etimologia


O papel do livro quer seja livre

é o de primeiro a carbonizar

Tão logo mantêm uma vogal

franceses alternam na consoante

e dizem les livres sont pas libres

Nunca se confundem

No castelhano são qualquer coisa

entre o sistema nosso e o deles


Uma questão geográfica

também uma questão didática

por que se explique aos falantes

que ler não é fácil não lendo

não se viaja

e a escritura se impõe

sim contra os outros sentidos

Não nem vem

não

ler sangra

sim


Ler é mais que liberdade

Ninguém transcende por literatortura

. . .

DEDICATÓRIA (feita a 20 de outubro por sensação de urgência)


Novo Acordo Ortográfico, eu o dedico aos outros. Glorificação, para ninguém. Sei lá, para os americanos. Eu já dedicara para Clara Uma imagonia, e assim é. Decisão sobre os Anolis envio ao meu professor Fabio de Souza Andrade, sem que ele o saiba: por reconhecimento. Isso eu repito com eu mundoGuia, pra quem criou a Netflix, deve ser Mark Zukenberg. Gestuário é para mim, que também sou gente e também mereço. intervenção nem precisa repetir. Balanço nasceu para Marina e assim, igualmente, o é. Translação, não digo; meu Deus, quanta violência. Sobre Fósseis de Ciborgue, só pode: Gal Costa. Nuinha. Engenho: André Pagani. receita de guardanapo vá mesmo o "Filipinho", e, nem se me torturar, não revelo o nome. retratelepatético é óbvio demais para quem. Bossinha fica sendo para o Chico, porque o quis dedicar para ******** e Chico não deixou. horror de nem, prum rato? Quem sabe. O Espólio de Fulvia Guzzanti, para ela mesma — e nem existe, coitada. (Ao momento da revisão esse poema já não existe mais. Risada maligna. Todo texto tem mil camadas; no jardim de minha avó há doze flores). Ai que se começo algo sério vou trapaceando, não dá jeito. Há outra forma? (E vou percebendo que tantos destes poemas couberam à — justa medida da lata eletrônica de lixo). Termino logo: Clara desgostou de Ritmo da Partida, mas dedico esse outro a ela, se sou eu quem decido; igreja dedico ao Totô. Aí, sim, coitado: ficou com o pior. Era preciso de eu testamentar tudo antes que a estante sob a qual durmo desabe em mim. Acabo de perceber que não dediquei nada para minha mãe. Tirem então o do rato do rato, o deem para ela. É tudo sempre para ela. Fim.

. . .

NOVO ACORDO ORTOGRÁFICO


Ela que eu não enrabava rabiscando na lousa

o português acentua até as três últimas sílabas

Ela coró zíssima e eu pensava

você me enraba?

porque veja eu não sou veado nem deixo de selo

mas quem vepensa


Vepensando assim eu assumia por necessidade

que só mentexistem ós abertos em sílabas tônicas

que os verbos atraem pra si toda sorte de quase palavra

que se absoluta

mentefez preciso repensar umas distâncias


Eles atraindo tudo assim

como quem vepensa

atraem a visão a mente

os sentidos eles atraindo

eles nos atraindo

os princípios dos verbos

Pelo que eu também vepensava e queria

velo assim sendo enamorada

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