#3 

Pois que o sinhor, sim o sinhor, o sinhor só levante a mão e dispare — Millenial! — acaso sentir-se muito seguro em não confessar o fracasso total de sua geração. Apenas não lhe acuso, que sinto exatamente isso sobre estes a que pertenço.


#4

Jornalismo dá tédio: para curar noites de indigestão, melhor ver o impedimento de Dilma Roussef, muito mais parecido com um filme triste. Disponível na plataforma que admiramos por nos fazer deitar de lado determinismos tecnológicos e reconhecer virtudes na rede, o filme fica terrivelmente trágico a partir das três horas, 43 minutos e 42 segundos, aliás, quando de fato começa. Insisto: jornalismo dá tédio, é literariamente que o documento deve ser visto apesar de não ser construção de nenhum gênio, chamando na ética e na política por uma inevitabilidade do que recentemente se descobriu ser a mentira do querer l'art pour l'art.


#5

De noite, a rua, vazia, e a jovem mascarada que se dirige a uma cúmplice e grita, ainda distante, para o ermo que as conecta:

– Estou mal, na medida do impossível.

RITMO DE PARTIDA


uma parada:

um farol de luz a iluminar

partir o som do m-

ar            
é preciso a luz ecoar no ar escuro 


sentado

tece a rede

traça o real sem prumo


sentindo

o vento esquecendo o vento

vento vento vento vento

o vento através da travessia

. . .

SEGREDO


Ambicionava novas formas de sentir e, portanto, reivindicava a criação duma nova gramática. Sonhava com outros alfabetos; desejava-se libertar de velhos temas virtuais. E tinha dinheiro: comprou um cachorro. Apesar de se não versar nas artes de psicologia canina,  descobriu outros latidos sintaxes exoterismos que não cabem em serem revelados para desconhecidos. Mas como, confesso, não comprou nem adotou cachorro, porque tampouco era homem de ambientalismos — não,  sonhou com um, porque era filho de tempo de simulacros e, com dinheiro, soube compreendê-los:

GUARDAR DINHEIRO SEMPRE


moral: O vizinho, deixando-se seduzir pela paternidade canina, colhe excretas até hoje.

. . .